por
CENPAH
Em 2007 foi sancionada, pelo ex-presidente Lula, a Lei nº 11.635
que faz do 21 de janeiro o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A
data presta homenagem à Iyalorixá baiana (mãe de Santo) Gildásia dos Santos e
Santos, que faleceu na mesma data, em 2000, vítima de enfarto.
Ela era hipertensa e teve um ataque cardíaco após ver sua imagem
utilizada sem autorização, em uma matéria do jornal evangélico Folha Universal,
edição 39, sob o título “Macumbeiros Charlatães lesam o bolso e a vida dos
clientes”. O texto não era menos ofensivo e agredia as tradições de matriz
africana, das quais Gildásia era representante.
Falar em intolerância religiosa e ter um dia para provocar a
reflexão sobre o tema é importante, mas não encerra o debate. Para Silvany Euclênio,
secretária de Políticas para as Comunidades Tradicionais, da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), falar em tolerância não vai
resolver a negação e a coisificação que recai sobre a população negra
brasileira.
Silvany defende que já está na hora de se garantir o direito
constitucional das pessoas vivenciarem livremente a sua cultura. “Por isso,
proponho que no dia 21 de janeiro, se pense contra o racismo e em defesa da
ancestralidade africana no Brasil, já que o enfrentamento ao racismo passa
necessariamente pelo combate à violência contra a ancestralidade africana e
vice-versa”, afirma.
Tradições e culturas
De acordo com gestora da SEPPIR, uma das facetas mais
contundentes do racismo no país foi ter tolhido dos negros a possibilidade de
viverem suas tradições e culturas, desde que aportaram no país para servir como
mão de obra escrava.
A resistência registrada desde então, afirma Silvany,
possibilitou a criação dos territórios tradicionais de matriz africana, locais
de afirmação da identidade e subjetividade histórica e cultural dos negros.
Nesses espaços foram preservados valores civilizatórios,
idiomas, indumentárias, práticas alimentares e de relação com o sagrado, com o
meio ambiente e com a sociedade do entorno, garantindo a preservação de um modo
de viver marcado pelo acolhimento e pela solidariedade.
O que aconteceu com Gildásia mostra o desrespeito com que essas
tradições são vistas ou recebidas. Ataques de violência – incêndios,
depredações, assassinatos, calúnias – contra seus espaços, símbolos, casas,
pessoas, são vividos cotidianamente pela população negra.
“Mesmo aqueles que não seguem suas tradições ancestrais ou não
exprimem isso em seu modo de vida, não são poupados do racismo”, diz a
secretária. “Basta apresentar características fenotípicas da população africana
para se cair nas garras do racismo”, afirma.
Fonte: Seppir (http://www.cedefes.org.br/?p=agenda_detalhe&id_not=202)
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