Blog do NOBLAT
A
morte de Getúlio Vargas
23/08/2004 02:19
De volta ao passado
Amanhã fará 50 anos que o gaúcho Getúlio Dornelles Vargas, nascido em
São Borja a 19 de abril de 1883, deu um tiro no próprio peito e saiu da vida
para entrar definitivamente na História do Brasil. É o nosso maior mito
político, ainda hoje apontado em pesquisas de opinião pública como o melhor
presidente da República que o país já teve.
Foi chefe do governo provisório depois da Revolução de 1930, presidente
eleito pela Constituinte em 17 de julho de 1934, e ditador entre 10 de novembro
de 1937 e 29 de outubro de 1945 quando foi deposto pelos militares. Retornou ao
poder eleito pelo voto popular em 31 de janeiro de 1951. Para finalmente se
matar no dia 24 de agosto de 1954, escapando de ser novamente deposto.
Se o marqueteiro Duda Mendonça tivesse idade, engenho, disposição e
chance para ter servido à Getúlio naquela época, seu famoso slogan que elegeu
Paulo Maluf prefeito de São Paulo (“Foi Maluf quem fez”), reciclado agora para
tentar reeleger a prefeita Marta Suplicy (“Marta fez”), se aplicaria com naturalidade
ao presidente que escolheu a morte para continuar vivendo na memória coletiva.
Foi Getúlio quem fez a Companhia Siderúrgica Nacional para produzir aço,
a Companhia do Vale do Rio Doce para extrair minério, a Petrobrás para explorar
petróleo e a Eletrobrás para gerar energia. Foi Getúlio quem criou o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e o Banco do Nordeste para financiarem
investimentos públicos e privados.
Foi Getúlio quem deu às mulheres o direito de voto. Foi ele quem deu aos
trabalhadores a legislação que ainda hoje disciplina suas relações com os
patrões. E foi ele quem abriu as portas da administração pública para a
admissão de funcionários por meio de concurso e do sistema de mérito.
Finalmente, foi ele o arquiteto da estrutura política partidária nacional que
vigorou no país até o golpe militar de 1964.
De resto, foi Getúlio quem fez o Brasil rural e atrasado de 1930 evoluir
mais rapidamente para o Brasil industrial inaugurado, digamos assim, pelo
presidente Juscelino Kubitschek no final do seu mandato.
Getúlio fez tudo isso sem levantar a voz, sem dar murros na mesa e
negociando à direita e à esquerda – mais à direita. O aparelho de propaganda do
Estado fez o resto. Fez dele “o bom velhinho” e o “pai dos pobres”. E,
valendo-se da censura, escondeu o líder autoritário que governou como ditador
durante oito anos, avalizou o emprego da tortura contra seus desafetos
políticos, e permitiu que judias como Olga Benário Prestes, mulher do líder
comunista Luiz Carlos Prestes, fossem deportadas para a Alemanha de Hitler e
ali morressem. Olga morreu na câmara de gás de um campo de concentração.
Este blog, a partir do primeiro minuto de amanhã – uma terça-feira como
aquela em que Getúlio se suicidou – viajará de volta ao passado para oferecer a
mais completa cobertura dos fatos que marcaram para sempre a História do
Brasil. Eu e vocês faremos de conta ao longo de 24 horas que amanhã é o dia 24
de agosto de 1954. E que nesse dia era possível fazer uma cobertura
jornalística em tempo real.
A primeira notícia que postarei aqui, logo depois da meia-noite de hoje,
dirá que o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, está cercado por uma multidão
enfurecida que berra pedindo a renúncia do presidente Getúlio Vargas. Na
companhia da família e de alguns assessores, o presidente fuma um charuto,
medita e aguarda a chegada do seu Ministro da Guerra. Dali a oito horas ele se
matará. Mas nem ele mesmo sabe disso. E a multidão que sitiou o palácio
ameaçando invadi-lo para dali escorraçar o presidente dará lugar a outra que
chorará e rezará de joelhos inconformada com sua morte.
(Hoje à tarde darei detalhes da cobertura mais ambiciosa da história deste blog.)
Para ler os detalhes dessa cobertura, clique no link: A Morte de Getúlio Vargas
Colaboração: Heloísa (Turma 702).
Postado por Prof. José Carlos.
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